sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

ELE NÃO NOS ABANDONA

Deus não compete com aqueles que são a sua imagem, isto é, o nosso próximo. Aquilo que compete com Deus é o dinheiro e o poder e o que ele desperta em nós. Só a devoção obsessiva pelo “ter mais” impossibilita o homem de ser mais com Deus e como Deus. Atraído pela ilusão materialista, o homem facilmente se auto engana e, num ápice, desvirtua a ordem das prioridades e inverte os valores. A subserviência a este deus menor rapidamente apresenta os seus resultados: a falta de tempo para as coisas essenciais da vida, como seja a relação com Deus e com os seus semelhantes; a indiferença pela dor dos outros e o desrespeito por tudo o que não participa na lógica do ter. Como demonstra um estudo recente em Portugal, os que têm mais habilitações e mais rendimentos são os que dão menos importância à solidariedade, à justiça e aos valores democráticos. Mas o distanciamento de Deus tem graves consequências para a vida dos homens. É por isso que a Igreja tem, de uma forma constante, ao longo dos tempos, denunciado os esquemas que promovem o "culto do dinheiro" e "a ditadura de uma economia sem rosto, nem objetivo verdadeiramente humano", esquemas que rejeitam os princípios do Evangelho (Papa Francisco). Neste sentido, urge revisitar e revalorizar a Doutrina Social da Igreja, para que não fiquemos, como nos pede o Papa Francisco, «à margem na luta pela justiça» (EG, n. 183). O afastamento do verdadeiro Deus faz-nos viver no medo das coisas futuras que, por sua vez, mergulham o homem num mar de angústias sem fim. Quantos irmãos, hoje, não se deixaram contaminar, activa e passivamente, por esta doença que corrói subtilmente a alma humana até a paralisar? Quantas vezes a nossa agitação e correria não se assemelha a uma máquina barulhenta que oculta a ansiedade e, por isso, nada do que fazemos nos satisfaz realmente? Quantas preocupações são motivadas pelo vazio que há em nós porque não somos habitados por Deus? Jesus convida-nos a reler a realidade para reaprendermos as lições aparentemente óbvias. Temos, certamente, muito que aprender na contemplação das aves do céu e dos lírios do campo. Talvez assim, nos disponibilizemos para o essencial que é a procura do Reino de Deus e a sua justiça. Pe. Nélio Pita, CM

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