quarta-feira, 24 de junho de 2015

O QUE FACILITA A VIDA AOS OUTROS

Bela tarefa, a que facilita a vida aos outros. Acto gentil, o que facilita a vida aos outros. Nobre e gracioso movimento da mão ou do pé que remove o obstáculo deixado pelos homens ou pela natureza no início do caminho. Desde a casca de fruta em que se escorrega, até ao ramo espinhoso que rasga as carnes. Desde o seixo ponte-agudo até às lianas que fecham as veredas e através delas parecem serpentes Como vai alegre e caminha ligeiro aquele que afasta dos caminhos e atalhos tudo o que é impedimento e obstáculo para a passagem dos outros. O peregrino vai cantando, prossegue sem sentir a sua rota e ao entardecer repara, com jubilosa surpresa, que ao apartar e remover os obstáculos dos outros, desimpediu maravilhosamente seu próprio caminho.(Amado Nervo)

sábado, 20 de junho de 2015

ACERCA DAS FESTAS DOS SANTOS POPULARES (SOLSTÍCIO DE VERÃO)

Com exceção (honrosa) da língua portuguesa, os nomes dos dias da semana das principais línguas vivas europeias estão marcados pelos astros: sol, lua, marte, mercúrio, júpiter, vénus, saturno. Esta maneira de dizer salienta a nossa dependência dos astros, que o mesmo é dizer, das forças da natureza que os astros representam. Excetuam-se, nalguns casos, o sábado e o domingo, que trazem a marca das tradições hebraica e cristã. Mas, mesmo no caso português, é fácil verificar como o nosso paganismo convive amenamente com o nosso cristianismo. Basta um olhar atento a esta época do ano (solstício de verão), e às celebrações que fazemos à volta dos santos populares: Santo António, São João e São Pedro. Embora o fenómeno seja o mesmo, detenhamo-nos na festa de S. João, por ser a mais afeta a esta zona norte do país. A tradição bíblica faz de João Baptista um homem austero, que anda pelo silêncio do deserto para melhor escutar a Palavra de Deus, e que, a quantos o procuram, prega penitência e conversão. Mas nós festejamo-lo com esfuziante folia, no meio de barulho e muita música, abundância de vinho e danças e folguedos… Entre os anos 117 e 135, o imperador Adriano, com o intuito de paganizar a Palestina, deitou por terra todos os lugares de culto cristão que lá havia, entre os quais se contava a «casa-igreja» deAin Karem[= nascente do jardim], lugar do nascimento de João Baptista, a uns 8 Km a SO de Jerusalém, extinguindo assim o nascente culto cristão a João Baptista, e implantando no seu lugar o culto pagão de Adónis. O culto de Adónis é o culto da natureza. Filho do incesto de Ciniras com Esmirna ou Mirra, a beleza de Adónis seduziu a deusa Afrodite ou Vénus, deusa do amor, da beleza, da vegetação e da fertilidade. Ciúmes de outras deusas, entre as quais Perséfone, deusa da morte, fizeram que Adónis fosse morto por um javali, indo assim parar aos braços de Perséfone (inverno, morte). O facto deu origem a intrigas entre as duas deusas (Afrodite e Perséfone), só sanadas pelo decreto de Júpiter, que decidiu que Adónis ficasse com Perséfone um terço do ano, com Afrodite outro terço, e que ficasse livre no último terço do ano. Mas Adónis ofereceu este último terço também a Afrodite. O tempo que passa com Perséfone é o Inverno, o tempo triste em que a natureza parece que morre. O tempo que passa com Afrodite é o tempo da Primavera e do Verão, o tempo da explosão da vida e da alegria. As festas em honra de Adónis têm assim um tempo de choro e de lágrimas, que equivale à morte de Adónis e ao tempo que passa com Perséfone, e um tempo mais intenso de folia, que equivale como que à «ressurreição» de Adónis e ao tempo que passa com Afrodite. Como se vê, Adónis não é mais do que natureza, e aquilo que nós festejamos no solstício de verão não é mais do que a exuberância da natureza. É esta paganização de João Baptista por Adónis que permanece ainda hoje nas nossas festas populares do solstício de verão. Voltemos aos astros. A língua latina fornece-nos duas palavras para dizer «astro»:aster, (pluralastra) e sidus (plural sidera). Na sua brilhante L’Écriture du désastre (Gallimard, 1980), Maurice Blanchot (1907-2003) mostrou magistralmente que se as pessoas vivem ligadas aos astros e se o seu comportamento depende deles sem qualquer possibilidade de liberdade, então a vida é com certeza um «des-astre»! E é esta a compreensão que expressamos do «desastre», quando lemos num acontecimento dramático da nossa vida ou da vida dos outros, não o resultado da nossa vontade, mas a influência perniciosa de qualquer astro, o velho destino. Do mesmo modo, dizemos hoje vulgarmente que alguém está siderado, quando está de tal modo fascinado por um objeto ou por um acontecimento ou pessoa, que já não consegue dar um passo por conta própria. Viver ligado aos astros e ao que eles dizem é, portanto, um desastre: se não nos conseguimos libertar deles, ficamos como que siderados, prisioneiros nas mãos de um destino qualquer. Mas se nos separarmos deles, então ficamosde-siderados, do latimdesiderare, que deu o nosso desejar. Ao sabor do nosso desejo. É, portanto, a libertação dos astros, a saída da sideração, que dá acesso ao desejo, que nasce da separação do astral e do regresso à vida e ao movimento, à liberdade e à história, a um tempo que seja nosso. Mas será ainda necessário quebrar este arco desiderativo a que andamos presos e que apenas molda em nós um «eu» identitário, autorreferencial e patronal sempre em expansão (hipertrofia do «eu»), e que apenas sabe rejeitar ou absorver o outro, num processo cego de autorrealização ou autossatisfação. É necessário abrir-se aoextra, ao sentido objetivo, aoéschaton, ao dom que vem de fora, e que ninguém pode produzir por si mesmo. Temos todos de aprender a recebê-lo, abrindo as mãos e o coração. Lições de Junho. (António Couto, Bispo de Lamego)

sexta-feira, 19 de junho de 2015

O LIMIAR DO MISTÉRIO DE DEUS

"Deus é invisível para nós, tal como invisível é o futuro. O futuro espera por nós e vem ininterruptamente ao nosso encontro, mas - enquanto permanece futuro - não se deixa observar. O futuro só se deixa observar quando se torna nosso presente - e, além disso, só em nós mesmos e na nossa história. Deus também só se torna visível, ao tornar-se presença humana. Todavia, mesmo então, não é visível como Deus, mas apenas como homem e uma história humana - na vida, na morte, na ressurreição de Jesus Cristo e em tudo o que lhe é inerente". (Tomaz Weclawski)

quinta-feira, 18 de junho de 2015

ORAÇÃO PELOS SACERDOTES

Senhor Jesus, que na Eucaristia celebrada pelos sacerdotes Vos perpetuastes no meio de nós, fazei que as suas palavras, gestos e vida sejam o reflexo fiel da Vossa vida. Que falem dos homens a Deus e de Deus aos homens. Que não tenham medo de servir, servindo a Igreja como ela quer ser servida. Que sejam testemunhas do eterno no tempo, fazendo o bem a todos. Que sejam fiéis aos seus compromissos, zelosos da sua vocação e da sua entrega, e vivam com alegria o dom recebido. Tudo isso Vos pedimos por intercessão da Vossa Mãe Santíssima: Ela que esteve presente na Vossa vida, esteja sempre presente na vida dos Vossos sacerdotes. Ámen.