sexta-feira, 11 de julho de 2014

FOI SENTAR-SE À BEIRA-MAR

Jesus saiu de casa e foi sentar-se à beira-mar! (Mt.13,1) O Semeador, que saíra a semear, parece agora pouco preocupado com o resultado da colheita! Semeou, na larga confiança da força vital da semente! E agora, livre de qualquer ânsia, por pesar os resultados, sai de novo. Desta feita, - diz o texto, a abrir o Discurso em parábolas - “Jesus saiu de casa e foi sentar-se à beira mar” (Mt.13,1). Deixemos para Jesus, a explicação que Ele próprio oferece da parábola, e detenhamo-nos apenas neste belo pormenor da cena, com
que São Mateus a enquadra. Jesus saiu de casa e foi sentar-se à beira-mar! Jesus parece sem programa, para cumprir! Sem qualquer compromisso particular. Senta-se a contemplar o panorama do lago, que lhe era familiar! Num momento de distensão, nas margens do lago, Jesus simplesmente louvará o Pai, por aquela maravilha, obra das suas mãos. Ou simplesmente deixará que os seus olhos se encham com a beleza que o rodeia, permanecendo ali em silêncio! Surpreendentemente a sua pregação, improvisada à beira-mar, parte de imagens da vida agrícola, talvez captadas por ele, na manhã daquele dia, antes ainda que a sua solidão contemplativa, fosse interrompida pela multidão que dele se aproxima! Jesus saiu de casa! E nós também sentimos o apelo da partida, da mudança, de sair uns dias, para fora do lugar do costume! Afinal, porque é que as pessoas, se deslocam em vez de ficarem quietas? Esta pergunta reconduz-nos ao centro do mistério do nosso próprio ser. De facto, as nossas viagens nunca são apenas exteriores. Não é simplesmente, na cartografia do mundo, que o homem viaja. Nesta inquietação, que se apodera de nós, sobretudo nos meses de verão, move-se afinal esse desejo tão humano, de mais, de ir mais longe! Deslocar-se implica, de facto, uma mudança de posição, uma maturação do olhar, uma abertura ao novo, uma adaptação a realidades e linguagens, um confronto, um diálogo tenso ou deslumbrado, que deixa necessariamente na alma impressões muito fundas! A experiência da viagem é a experiência da fronteira e do aberto, de que cada pessoa precisa para ser ela própria. É a nossa consciência que deambula, descobre cada detalhe do mundo e olha tudo de novo, como da primeira vez. A viagem é uma espécie de propulsor deste olhar novo! Na verdade, mais do que geógrafos ou viajantes, somos peregrinos. E, para nós, esta peregrinação não tem propriamente um fim. Tem uma extraordinária finalidade: a do encontro com Cristo, que até pode ser junto ao mar! Foi sentar-se à beira-mar! Milhões de pessoas repetem, no verão, este gesto de Jesus! Eu acredito que tal como os outros gestos de Jesus, nesse também há um significado libertador. Há uma liberdade, que o vento fresco do mar arrasta para o nosso coração! Somos habitados por uma fome de vastidão, de silêncio e de beleza que a contemplação do oceano consola. Porque, como escrevia Fernando Pessoa, “somos da altura que vemos e não simplesmente da nossa altura”. Querido irmão, querida irmã: Saindo de casa, sentado (a) à beira mar, ou mesmo na soleira da porta, deixa que Deus venha ao teu encontro e te contemple! Deixa que em silêncio, Ele reze o que tu és! Deixa-te tocar, nem que seja um frágil minuto, diante da Sua imensidão! E a semente do Reino crescerá no teu coração! Reflexão inspirada em textos de JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, Um Deus que dança, Secretariado Nacional do Apostolado da Oração, Braga 2011, 108; IDEM, O tesouro escondido, Ed. Paulinas, Prior Velho 2011, 107-108.